Gears of War Bloodlines Traduzido

Confira o primeiro capítulo do livro Gears of War: Bloodlines em Português do Brasil

Olá Gears, estou aqui novamente pra dizer mais a respeito do andamento da tradução do Gears of War: Bloodlines. Como sabemos, infelizmente ele não chegou traduzido em nosso idioma e então estou fazendo a tradução dele manualmente para todos os leitores que também estavam aguardando pela chegada desse livro.

Esse trabalho é árduo mas bastante recompensador em saber que tantas pessoas que jogam, também gostam de ler, e foi graças a esse entusiasmo que notei que traduzi todas as histórias em quadrinhos.

Pois bem, pra matar um pouco de curiosidade e dar um vislumbre de como está ficando, vou disponibilizar pra leitura o Ato 1 do livro e liberar o restante posteriormente assim que eu finalizar.

Confira abaixo o primeiro capítulo traduzido com exclusividade para PT-BR!

Ato 1

ACAMPAMENTO 2 – PLANALTO DE JACINTO

1: BLOQUEIOS

Havia um buraco nas nuvens, onde um raio de morte devastador e incandescente perfurava e rasgava o mundo em pedaços.

Por um bom tempo, Kait não sabia o que dizer – tudo o que ela podia ver era aquele brilho estampado na parte interna de sua pálpebra. Um brilho vertical que quase apagou tudo ao ser redor. Quase.

Pois em sua visão havia uma silhueta. Uma sombra contra aquele brilho, uma escuridão para fornecer algum contrapeso.

Uma sombra que era seu amigo
Uma sombra que era –
“JD!”

Del, gritando, correndo. Em direção à carnificina e ao fogo. Ela ouviu seu grito de pânico apenas um segundo antes dele passar por ela e correr pra cima daquele inferno em chamas. Kait o seguiu instintivamente, seu cérebro ainda entorpecido pelo que viu. O que ela entendeu.

O acampamento 2 era uma ruína fumegante. As chamas se alastraram em todos os edifícios ao seu redor. Até a porra do asfalto estava pegando fogo, superaquecido a um estado semelhante ao magma pelo poder bruto e surpreendente do Martelo da Aurora.

“Marcus?” Kait gritou mo meio da fumaça e no caos. “Cole?”

Ninguém respondeu. Eles podem estar em qualquer lugar. Eles poderiam ter sido vaporizados.

Outro feixe de luz caiu do céu, à sua direita.

Descontrolado. Fora de controle.

“Baird”, Del gritou em seu comunicador. “Desligue essa maldita coisa!”
“Eu não consigo!”
“Descubra uma maneira!”

Damon Baird respondeu, mas suas palavras se perderam em uma explosão a cerca de cem metros de distância. Outro prédio que estourou como um balão no ar que tinha pegado fogo. Vidros e pedras choveram por todo seu lado. Teria Marcus ido por ali? Ele tinha passado por lá?

Ela pode ter perdido Marcus, mas ela sabia onde o filho dele estava. Ou tinha passado. Isso tinha que ser sua prioridade agora.

JD estava ao lado de um caminhão Minotauro, a cerca de dez metros de distância, e estava completamente envolta de chamas. Kait alcançou Del e agarrou seu ombro, puxando-o para trás do calor intenso. Mesmo a esta distância, ela sentiu a pele em suas bochechas começando a queimar.

Nas chamas, ela podia ver a forma de Lizzie Carmine. O que restou dela. Kait cerrou os dentes espantada e desviou o olhar, fechando os olhos. A imagem se recusou a desaparecer da sua mente. Ela sentiu o cheiro de carne queimada, e isso fez seu estômago revirar.

“Ali,” – Del disse, e ele se afastou de novo, lateralmente. Ele correu dez passos e se agachou ao lado de uma pilha de destroços. Kait piscou. Não eram escombros. Era uma pessoa. Era ele. JD Fenix. Sem vida, disperso. Fitas de fumaça subindo de seu braço e peito. Rosto escurecido. Olhos fechados. Sangue escorrendo do canto de sua boca. Del tinha dois dedos pressionados contra seu pescoço.

Ele estava chorando. Kait percebeu.

“Ele está vivo?” ela perguntou.

“Eu… eu não sei dizer. Eu não sei dizer! Estou sentindo o pulso dele ou o meu?” Falando bem baixo. Mesmo da onde ela estava ela podia vê-lo tremendo.

Uma arma que parecia ser arrancada estourou atrás dela. Fahz, gritando insultos para um inimigo invisível, tentando detê-los com um canhão giratório da Tri-Shot que ele deve ter pego de um DR-1 caído. A julgar por seu tom, ela sabia que era uma causa perdida.

“Precisamos sair daqui”, disse Kait, ciente de como sua voz parecia distante e adormecida. Del não respondeu. Seu mundo havia se reduzido a uma coisa: seu melhor amigo. Ela olhou ao redor. Apenas um Minotauro permaneceu operacional, até agora ignorou a ira do Martelo da Aurora, mas presa pelos dois lados que estavam destruídos.

Kait se agachou ao lado de seu amigo. Seus olhos encontraram os de Del enquanto ele continuava a sentir o pescoço de JD para sentir a pulsação. O olhar durou apenas um segundo, mas ela podia ver em sua expressão um eco de seus próprios pensamentos conflitantes. Tristeza insondável e uma profunda decepção com o que JD fez meses atrás, bem aqui no Acampamento 2. Uma verdade que ela descobriu poucos minutos antes. JD atirou primeiro. Começou aquela matança.

Ele nunca disse a Del, ou a ela. Escondeu deles.

O rugido da Tri-Shot de Fahz ficou mais próximo. Ele estava recuando em direção à posição deles, atirando em algo obscurecido pela fumaça. Swarms, é claro. Algo bom não era. Algo que poderia matar a todos – se o Martelo da Aurora não voltasse a funcionar primeiro. Depois de ver Lizzie, e agora JD, Kait não tinha certeza de qual lado ela preferia.
A poucos metros de distância, uma figura emergiu da fumaça. Kait mal teve tempo de sacar sua pistola antes de reconhecer Marcus Fenix.

“Ele está vivo?” disse Marcus. A baioneta de seu Lancer gotejava com as vísceras de um inimigo caído.

“Não tenho certeza”, Del admitiu, parecendo à beira de um pânico.

Quaisquer que fossem os sentimentos que essa resposta pudesse ter despertado, Marcus os manteve reprimidos.

“Coloque-o no caminhão, antes que Baird o frite também.” Ele apontou o polegar em direção ao Minotauro restante. Um pouco além dele, Kait viu o grupo de civis que JD conseguiu salvar do caminhão da Lizzie Carmine antes que ele explodisse. Eles estavam amontoados sob um toldo do que tinha sido um restaurante. Incapazes de entrar no local que estava sendo consumido por chamas por dentro.

Então ela viu uma figura familiar. Cole estava com eles, protegendo-os e mantendo-os calmos ao mesmo tempo.
“Ajude-me a levantá-lo, Kait,” Del disse enquanto colocava JD em uma posição sentada. Jogando sua arma, ele puxou um dos braços de JD que estava ferido por cima do ombro. Kait mudou-se para o outro lado de JD. Ela agarrou o pulso de JD e estava prestes a levantá-lo por cima do ombro quando fez uma pausa.

“Vamos, rápido!” Del disse, grunhindo.

Marcus correu em direção ao caminhão em andamento.

“Cole, Fahz!” ele gritou. “Coloque todos na caminhonete!” Estamos indo embora!”
“Del”, disse Kait. “Veja.”

Del seguiu seu olhar, e uma expressão de espantado cruzou seu rosto antes que voltasse a levá-lo. O braço direito de JD era uma ruína de tecido queimado e feridas de estilhaços. Se ele estivesse vivo, movê-lo poderia fazer ele sentir algo além desse limite do que conseguiu sobreviver. Olhando para o braço, ela se perguntou se ele preferia não sobreviver.

Marcus gritou para eles se apressarem.

“O braço dele—-” Kait gritou de volta.

“—- não vai importar se todos nós morrermos aqui! Pegue-o!”

Então ele estava na cabine do caminhão, puxando um motorista morto do assento e subindo atrás do volante. Ele ligou o motor.

Ela encontrou e fez contato direto com os olhos de Del. Ele fez uma careta e então acenou com a cabeça.
Quando ela ergueu o braço mutilado de James Fenix, ele gritou.

Uma milha depois do Acampamento 2, o Martelo da Aurora finalmente se encerrou. Seu feixe se transformou em rajadas curtas e erráticas, de alguma forma mais aterrorizantes do que as longas e prolongadas rajadas, pois cada ataque em fração de segundo era tão aleatório, mas ainda assim incrivelmente destrutivo.

Finalmente, ele piscou uma última vez e ficou em silêncio. O céu escureceu novamente, exceto pelo brilho fraco do acampamento em chamas que agora estava quase todo escondido sob um manto de fumaça densa.

JD estava deitado no chão entre os dois bancos, coberto com todas as almofadas de queimadura que eles conseguiram resgatar. Havia bancos de cada lado dele, lotados de civis. A maioria olhava com medo para a frente ou encolhidos uns contra os outros com os olhos fechados. Qualquer coisa menos olhar para o homem ferido que jazia entre eles, ou para as ruínas de suas casas que ficavam mais longe rapidamente com a distância a uma vista infernal.
Incapaz de olhar para a forma debilitada e lamentável de seu amigo por mais tempo, Kait foi para a parte de trás do veículo. Marcus estava sentado na ponta de um banco, os braços cruzados sobre o peito. Ele olhou fixamente para o chão à sua frente, perdido em pensamentos.

Sentando-se à sua frente, Kait puxou a capa de lona de lado e apontou seu Lancer pela abertura estreita, embora não houvesse nada em que atirar agora. O Martelo da Aurora cuidou disso.

“Alguém mais sente que acabamos de ter uma prévia de como será a aparência de Sera se não acabarmos com isso logo?” Fahz perguntou pelo comunicador. Ele estava no banco do motorista na frente, com Del. Ninguém respondeu. Não havia necessidade.

Kait finalmente desistiu e fechou a capa de lona do caminhão. Ela se forçou para ver JD. Apesar dos ferimentos horríveis, seu rosto parecia calmo. Até mesmo pacífico. Então deu a ele tantos analgésicos quanto puderam. Na penumbra, e coberto pela máscara médica, ele lembrou a Kait seu próprio pai no fim da vida. Essa memória foi uma que ela reprimiu por muito tempo. Pensar nisso agora a fez estremecer.

Como se seus pesadelos não fossem ruins o suficiente.

“Eu disse…” começou Fahz.
“Chega, Fahz.” Era Del. “Apenas se concentre na estrada, ok?”
“Eles não nos seguiram, companheiro. Não sobrou nenhum depois… disso.”
“Talvez não atrás de nós”, disse Del. “É a estrada à frente que me preocupa. Na verdade, dê-me aquele Tri-Shot. Vou levá-lo para cima do caminhão.”
“Fique parado”, disse Kait. “Eu farei isso, apenas me dê um segundo para subir.” Houve um rasgo na lona grossa que cobria a plataforma, bem atrás da cabine. Abaixo do corte havia um armário de armas, completamente vazio. Kait ficou em cima da caixa e se empurrou pela abertura. De lá, foi uma subida fácil até o teto da cabine.
Ela bateu na escotilha com o punho.
“Dê-me aquele Tri-Shot, Fahz.”
“Com prazer,” respondeu ele, abrindo o portal blindado e empurrando a arma para ela. Kait resmungou esforço enquanto puxava a arma volumosa para cima do caminhão. Em seguida, ela enfiou as pernas por dentro e plantou os pés nas costas do banco entre os ombros de Fahz e Del.

Ninguém falou por vários minutos enquanto o caminhão avançava ruidosamente. Foi Del quem quebrou o silêncio.
“Swarms!” ele gritou, de repente. “Bem à frente!”

Kait estava olhando para a esquerda. Ela desviou o olhar para onde Del avisou de onde estavam vindo e examinou a estrada, na esperança de que ele estivesse errado.

Mas não, ele estava certo. Um Scion surgiu ao lado da estrada, parado atrás de uma velha barreira de tráfego que chegava até sua cintura. Além, na escuridão, vários Drones correram para se juntar a ele. Muito mais estavam lá fora, escondidos por uma cobertura ou sombra, ninguém sabia.

Mais Swarms, pensou Kait. Sempre haverá mais.

Uma súbita onda de fadiga tomou conta dela. Talvez fosse a memória de seu pai em seus últimos dias lutando contra a Ferrugem do Pulmão, a doença que o levou para onde nem mesmo a Guerra contra os Locusts conseguiu. Por um instante, ela se viu pensando nele novamente.

A guerra que ele lutou–

“Kait!”

Ela saiu de seu devaneio.

“Olha, eu posso lidar com isso se você não estiver disposta”, disse Del, e começou a subir.
“Não, eu entendi.” Ela gesticulou para que ele se sentasse novamente.

O caminhão era antigo e, em algum momento, alguém rabiscou “LATA VELHA” em cima dele. Kait deu um tapinha nas palavras com uma das mãos, depois pousou o Tri-Shot ao lado deles e mirou na estrada à frente.

“Concentre-se no Scion”, disse Del. “Não temos que enfrentar todos eles. Só precisamos passar por eles.”

Kait se posicionou o melhor que pôde. A Tri-Shot, feito para ser usado pelos robôs DeeBees, não tinha nenhum tipo de visão – mas não era exatamente uma arma que exigia precisão. Ela agarrou os dois punhos e, à medida que o inimigo se aproximava, puxou o grande gatilho que ativava os canos rotativos.

Todo o caminhão parecia pulsar com a vibração do canhão. Seus três canos giravam mais devagar do que uma metralhadora típica, mas essa deficiência foi mais do que compensada pelos projéteis de alto calibre que disparou. Flashes da ponta da arma disparavam a paisagem da visão dela. Tiros passavam voando de raspão de vez em quando, mas que podiam muito bem ter sido poupados. Ela podia ver onde os tiros ficaram pela carnificina que eles criaram.

Kait moveu a arma na direção do Scion. A regularidade da batida dos tambores de seus disparos de repente se estendeu quando os barris começaram a superaquecer, diminuindo o ritmo terrivelmente. Cartuchos de balas se acumularam em cima do caminhão e ao seu redor. Alguns caíram sobre Fahz, que gritou quando um deles queimou seu caminhão antes de saltar para longe. Ele parecia prestes a reclamar, mas talvez o pensamento da condição de JD o fizesse segurar a língua pela primeira vez. Kait o ignorou de qualquer maneira e continuou atirando.

Ela estava mirando na criatura, mas ele se escondeu atrás de uma das velhas barreiras de tráfego. Enquanto ela observava, começou a empurrar o objeto na estrada para bloquear o caminho.

Fahz também viu. Ele acelerou. “Segure-se em alguma coisa”, ele gritou, desviando de uma cratera na velha rodovia abandonada. Foi tudo o que Kait pôde fazer para impedir que o Tri-Shot escorregasse do telhado, muito menos apontasse para seu inimigo. Ainda assim, ela atirou, arma superaquecida ou não. O Scion começou a se levantar, então mudou de ideia. Poeira e destroços voaram para o ar quando a barreira da estrada em que ele se agachou começou a lascar sob o ataque. Se Fahz parasse, pensou Kait, ela poderia fazer um buraco no concreto e depois no alvo.

Esse não era o plano, entretanto, então ela manteve o Scion preso.

Então suas balas acabaram.

“Fahz!” ela chamou. “Munição!”

“Dirigindo um pouco ocupado, caso você não tenha notado?” ele gritou de volta, desviando novamente, de volta para a direita.

Del estava se preparando para atirar pela abertura da janela em sua porta, mas poupou o esforço agora. Ele empurrou seu Lancer no espaço estreito entre seu assento e a porta, em seguida, procurou em volta no chão da cabine em busca da caixa de munição. Agarrando-o, ele o ergueu em direção da arma de Kait.

“Basta puxar o cartucho e pegar aqui!”

Então ele fez isso.

Kait pegou o cartucho de balas e enfiou na arma, deu um tapa nela e agarrou novamente nas alças. Tri-Shot estava pronta pra começar a girar.

Eles estavam a apenas cinquenta metros de distância agora. Vários Drones chegaram à beira da estrada, mas Kait os ignorou. O Scion havia bloqueado a pista da direita completamente agora com uma parede de concreto da altura da cintura. Ele estava em uma extremidade dela, no centro da estrada, espiando por cima de sua cobertura e observando-os se aproximarem. Esperando.

Fahz também viu e manobrou o Minotauro para a pista da esquerda. Kait percebeu, exatamente o que o inimigo esperava.

“Ele vai tentar pular”, disse ela. “Esteja pronto com a munição, Del!” Ela não tinha ideia se ele a ouviu, mas havia um movimento na cabine abaixo.

Kait despejou balas na barricada que estava na estrada em frente deles. A Tri-Shot, tendo esfriado durante a recarga, ficou em suas mãos com seu ritmo habitual de recuo. Poeira em todo canto. Faíscas voaram enquanto os projéteis de balas ricocheteavam no concreto e na estrada ao redor. Pedaços de estilhaços voaram e ricochetearam, fumegando, e no meio de tudo isso, quase que imperceptível, ela viu uma mão do Scion. Parecia que ele brilhou por trás da sua cobertura da onde estava, jogando um objeto metálico em seu caminho.

“Granada!”

Fahz virou o volante. A caminhonete deu uma guinada para a esquerda, sobre um acostamento acidentado. Antes que eles pudessem deixar a estrada totalmente Fahz conseguiu manobrar. Uma curva fechada para a direita, inclinando-se nauseante sobre três rodas. De alguma forma, ele evitou que o caminhão capotasse, mas não conseguiu evitar a explosão. A granada explodiu quando eles passaram por cima, baqueando contra o chassi exposto do Minotauro.

É, Kait teve de admitir, foi uma forma brilhante de se dirigir. Fahz, incapaz de evitar a barricada, deixou a parte inferior do caminhão absorver o dano, enquanto contornava a estrada bloqueando a pista da esquerda.

Fahz os endireitou. Os pneus guincharam embaixo deles quando voltaram com a estrada. Naquele mesmo instante, algo pesado bateu na porta de Del.

Com todos eles distraídos pela granada, o Scion saltou.

Sua mão voou pela ponta da arma, agarrando o pescoço de Del. Seu musculoso antebraço forçou quando a criatura apertou, empurrando Del para trás em seu assento. Kait tentou chutar o pulso dele, sem sucesso.

O Scion começou a rir.

Del ficou com o rosto se contorcendo enquanto o Scion o sufocava, tentando pegar algo entre seu assento e a porta por alguma razão.

Kait ouviu uma motosserra da Lancer se ligando instantes depois, e então Del puxou a arma para cima com súbita ferocidade. Houve um barulho úmido nauseante. O sangue espirrou na parte da cabine, então o braço ficou livre e o Scion saiu rolando.

Del não perdeu tempo. Ele puxou a maçaneta da porta e a abriu com uma cotovelada forte, fazendo a criatura cair na estrada. Kait ouviu o impacto do Scion no chão rolando.

Fahz acelerou. Enquanto eles se afastavam, Marcus abriu fogo das capas de lonas atrás do caminhão.

Virando-se, Kait virou a Tri-Shot também, mirando para trás. O Scion pode ter caído, mas ainda havia aqueles Drones com que se preocupar.

Mas quando ela voltou a olhar o inimigo, eles estavam trinta metros atrás e desaparecendo rapidamente. Seu líder Scion estava na estrada, imóvel.

Kait examinou as colinas dos dois lados. Tudo parecia quieto.

“Acho que estamos fora de perigo”, ela gritou.

“Você vai azarar, falando assim”, disse Fahz.

Kait balançou a cabeça, ignorando-o, entrando na cabine e empurrando os dois homens para o lado até que ela tivesse espaço para se sentar entre eles. Ficou apertado com os três na cabine, mas de alguma forma eles fizeram caber. Kait sentiu um pequeno prazer em ver como Fahz parecia desconfortável dividindo uma carona com duas pessoas que gostava de contrariar em todas as oportunidades.

“JD não vai durar muito”, disse Del de repente.

“Especialmente se continuarmos sendo explodidos.”

“Nós explodimos?” Perguntou Fahz, verificando sua armadura, sua cabeça e o volante. “Não, estão todos aqui. Graças a mim.”

Del se inclinou para olhar além de Kait, apontando o dedo para Fahz.

“Quer saber, estou ficando realmente enjoado das suas merdas.”
“Que coincidência”, respondeu Fahz. “Eu já estou farto dos seus.”

Kait, cansada a ponto de desmaiar, ignorou suas discussões inúteis. Ela ativou seu comunicador, falando em voz baixa.

“Marcus”, disse ela. “Eu não acho que JD pode sobreviver sendo levado assim novamente.”

“Já falei com Baird”, Marcus respondeu.

“Eles estão enviando um Helicóptero. Rendezvous não fica longe. Uma milha, no máximo. Podemos ir tão longe?”

“Depende de quantas granadas mais atropelarmos”, disse Del.

“Nenhuma, até agora!” Fahz respondeu.

“Fique atento”, disse Marcus, levantando a voz. “Todos vocês. Nós vamos conseguir.”

Dez minutos depois, eles sairam da estrada e entraram em um campo amplo de gramado, onde um King Raven pousou, com o rotor ainda girando.

2: PROGNOSES

Havia paralelos, pensou Kait, entre a condição de JD e a cidade de Nova Ephyra. Ambos estavam presos entre a vida e a morte, um estado que dependia inteiramente de forças externas. JD na equipe médica que parecia estar esperando, esperando…

Enquanto a cidade apenas esperava os Swarms chegar.

Sentada em uma cadeira no quarto de hospital de JD, ela estava com as pernas dobradas para cima, os braços cruzados sobre os joelhos, o queixo apoiado nos antebraços. Ela poderia sentar-se assim por horas, até que fez isso, e ocasionalmente cochilou. Mesmo assim, o sono foi superficial e rápido. Foi a posição que seu pai lhe ensinou quando ela tinha… o quê, sete anos? Ela não conseguia se lembrar exatamente. Aqueles dias de exploração da selva ao redor do Forte Umson já haviam se passado há muito, muito tempo.

JD apenas ficou lá, inerte, por duas semanas. Uma máquina sibilou e estalou ao lado dele, fazendo o trabalho que seus pulmões ainda se recusavam a fazer. Havia um tubo grosso em sua boca e outros menores em seu nariz. Seu braço direito estava completamente coberto por almofadas de queimadura, e eles rasparam sua cabeça – a parte em que o cabelo não foi queimado, isto é, para cuidar melhor de suas queimaduras. Algumas vezes, uma equipe de enfermeiras chegava para mudar seu corpo para posições diferentes. “Para prevenir a atrofia”, disse o médico. Então elas iriam lavá-lo, alimentá-lo.

Tudo exceto acordá-lo ou deixá-lo ir.

“Assim como essa porra de cidade”, disse ela para si mesma, olhando pela janela.

“O que foi isso, Cabo Diaz?”

Kait não se virou ao ouvir a voz de Mina Jinn vindo da porta. A mulher gostava de aparecer de repente, sem fazer barulho até já estar na sala.

“Sabe”, respondeu Kait, “realmente gostaria que você parasse de me chamar assim.”

“Me perdoe.” Jinn entrou na sala. “Um lapso de língua. Ou, talvez, apenas me excedi.”

Kait não conseguiu conter a risada. A Primeira Ministra da CGO havia começado este pequeno jogo de toma lá da cá – apenas um dos muitos do qual praticava em determinados momentos – isto apenas alguns dias depois de Kait chegar pela primeira vez a Nova Ephyra.

Primeiro, Jinn se encontrou em particular com JD e Del, perdoando sua deserção e reintegrando suas patentes. Uma reunião, claramente, da qual Kait ficou de fora. Afinal, Jinn teria dificuldade em convencer Kait a se juntar se seus dois melhores amigos estivessem na prisão em vez de estarem na CGO por terem desertado. Sem dúvida, ela também não queria que Kait defendesse a recusa de ambos pela proposta que ela fez a ambos.

Jinn acabou garantindo sua cooperação, no entanto, ela tentou usá-los para recrutar Kait, confiante de que seguiria seus amigos para os braços da CGO.

Mas então Kait soube de sobreviventes em sua aldeia. Crianças, na verdade, foram deixadas para trás para se defenderem contra a crescente ameaça dos Swarms. Para Kait, a decisão foi fácil, embora tenha pegado o restante deles fora de guarda. Ela foi embora. Saiu da cidade à noite, com uma pequena ajuda de Damon Baird e Marcus Fenix.
Kait salvou as crianças no final, até se reuniu com seu tio Oscar durante o processo. E na batalha final contra o Swarm, todos ajudaram, até JD e Del. A banda estava, por assim dizer, de volta ao normal.

Jinn, ao que parecia, tinha aproveitado todas as oportunidades enquanto Kait estava fora em sua missão de lobo solitário para “acidentalmente” chamá-la de Cabo Diaz. Era como se ela pensasse que dizer isso de alguma forma acabaria acontecendo. Especialmente quando ela disse isso ao alcance da voz de outras pessoas. A declaração de posição realmente se espalhou. As enfermeiras a chamavam assim. Médicos também. Até mesmo Baird disse isso acidentalmente, uma vez, sem entender o que Jinn estava fazendo. Na mente da Primeira Ministra, era uma conclusão precipitada que Kait se juntaria a CGO, a Coalizão de Governos Ordenados.

Na cabeça de Kait, isso estava longe de ser verdade.

Especialmente agora.

“Você sabia que ele deu o primeiro tiro?” ela perguntou.

Jinn pegou uma das cadeiras ao lado da cama, e olhou os olhos do JD.

“Me desculpe, do que se trata?”

“Você sabe do que estou falando. Acampamento 2.”

Jinn mudou, desconfortável. Ela colocou as mãos sobre a barriga grávida. “O que aconteceu lá foi lamentável—“

“Não foi isso que perguntei.”

“A situação era complicada, Kait.”

“Você. Sabia. Disso?”

A Primeira Ministra estendeu a mão e acariciou a bochecha de JD com as costas da mão. Um gesto maternal, se é que já houve um. Kait esperou, observando, se perguntando se Jinn estava realmente tendo um momento de comoção com o soldado ferido, ou apenas fingindo para compor sua resposta.

“Claro que eu sabia.” Jinn respondeu, com sua voz, convicta. “Eu dei a ordem.”

Kait não esperava isso. Sua primeira reação instintiva – foi de raiva – mas rapidamente substituído pela suspeita. Ela não deixaria Mina Jinn mentir, dizer essas palavras, a fez pensar se a mulher queria consertar o desentendimento entre JD e Kait. JD e com todos, afinal. Antes que ela pudesse decidir o que dizer, um médico entrou. Alguém provavelmente interrompeu seu sono assim que o hospital registrou a presença de Jinn.

“Primeira Ministra”, disse ele. Ele olhou para Kait e, se dissesse “Cabo”, Kait acreditou por alguns instantes que ela poderia ir embora naquele mesmo momento. “Sra. Diaz.”

“Alguma mudança?” Jinn perguntou, com os olhos nunca cabisbaixos.

“Receio que não”, respondeu ele. “Ainda há atividade cerebral significativa, o que continua a nos dar esperança de que ele supere isso, mas o resto dele permanece inteiramente no suporte de vida.”

“E seu prognóstico, doutor?”

O homem mediu suas palavras. “Simplesmente não há como saber.

Ele poderia acordar amanhã, ou daqui a um ano, ou … nunca.” Antes que Jinn respondesse, ele acrescentou: “Na minha experiência, e pela extensão de seus ferimentos, o fato dele não acordar até agora significa que ele provavelmente não fará mais isso.”

Jinn não disse nada. Seu foco estava inteiramente em JD.

Kait percebeu que ela estava prendendo a respiração. Ela soltou, lentamente.

O doutor se mexeu inquieto. “Primeira Ministra, com licença, mas pode ser sábio tomar uma decisão logo… Investir essa quantidade de tempo e suprimentos em um homem—“

“Você pode se retirar agora,” Jinn retrucou.

O médico acenou com a cabeça e, com um olhar disfarçado para Kait, saiu da sala. Atordoada e exausta, Kait ficou quieta. Um silêncio infiltrou-se na sala como uma névoa matinal, absoluto, exceto pelo chiado e bipes da máquina de suporte de vida.

“Eu invejo você às vezes,” Jinn disse de repente.

“Por que é que..?”

A Primeira Ministra virou ligeiramente a cabeça, com um olhar de relance.

“Desculpe, estou falando com JD”, disse ela. “A vida do soldado. Seguir ordens em vez de tomar decisões. Às vezes tenho inveja.”

Kait olhou feio para ela. “Ele ainda tomou uma decisão. Ele poderia ter optado por não puxar o gatilho.”

Por um momento Jinn ficou tensa, parecendo pronta para debater o assunto, mas então suas feições suavizaram. Ela se voltou para o homem inconsciente e acariciou sua bochecha novamente.

“Suponho que você esteja certo”, disse ela depois de um tempo. “Além disso, tirar James do aparelho de suporte de vida não é uma decisão minha. Deve ser Marcus quem decide. É um direito seu.”

A acusação tácita deixou Kait ainda mais fria. Marcus tinha visitado seu filho apenas uma vez nas últimas semanas, e mesmo assim foi breve. A pior parte é que ela entendeu porque isso aconteceu. Ela mesma sentiu relutância, e sabia que Del também. Jinn e Fahz foram os mais diligentes em manter a vigília.

“Ao mesmo tempo”, continuou Jinn, “de alguma forma me sinto responsável por ele. Foi meu programa que ajudou sua mãe, Anya, a engravidar. Eu estava lá quando ele nasceu. Eu…”

Foi isso. Kait se levantou e saiu da sala. Na entrada principal do hospital, ela encontrou Del, que estava subindo as escadas.

“Ele está melhor?” ele perguntou.

“Não.”

“Ele está sozinho aí?”

“Jinn está com ele.”

“Putz, é sério?.” Del olhou para a fachada do prédio. “Parece que toda vez que subo o Fahz conta alguma história de guerra com JD, ou Jinn se inclinando sobre ele e sussurrando como se ela estivesse contando todos os seus segredos para ele.”

Kait fez uma careta. “Eu sei o que você quer dizer. Eu só queria que ele acordasse, para que eu pudesse bater em sua bunda.”

“Sim, olha, sinceramente.” Ele desviou o olhar do prédio. “Talvez eu volte mais tarde, então.”

“Bem pensado”, respondeu ela, e começou a andar novamente. Del se aproximou-se ao lado dela e permaneceu com ela por todo o caminho até a mansão de Baird, onde ela estava hospedada. No portão, ela parou e se virou para ele.

“O médico está pressionando para que ele desliguem os aparelhos.”

Del não pareceu surpreso. Era algo que todos eles consideravam desde o retorno do Acampamento 2.

“O que Jinn disse?”

“Ela disse ao médico para ir embora.”

Com isso, Del levantou uma sobrancelha.

“Então ela disse que era a decisão de Marcus”, acrescentou Kait, “mas ela começou a falar que ela é praticamente a mãe de JD por causa daquilo que ocorreu com a Anya e… eu achei que tinha que sair. Os dois merecem ter esse momento sozinhos.”

“Isso é meio chocante.” E com seu olhar denso, Del ergueu suas mãos. “Quer dizer, eu entendi de onde você está vindo, mas mesmo assim…” Ele olhou para trás em direção ao hospital. “Droga. Vai ser interessante ver como o filho de Jinn será. Ela seria uma… mãe interessante de se ter.”

Ela tentou, mas não conseguiu, impedir outra risada que borbulhou dela. Desta vez, a risada não parava, e logo. Del também estava rindo. Era bom, mas também a inundou de culpa. Apesar de tudo, no final das contas era de JD que eles estavam falando.

Eles permaneceram ali na calçada, o clima ficando sério novamente enquanto ao redor deles os cidadãos de Nova Ephyra viviam seu dia. O lugar havia mudado nos últimos meses, agora que a ameaça dos Swarms se tornou algo inegável, como uma enorme nuvem de tempestade no horizonte.

“Jinn me disse que deu a JD a ordem de atirar”, disse Kait. Del, observando uma patrulha de DeeBees marchar, grunhiu.

“E o que você falou?”

“Eu disse a ela que ele ainda tinha uma escolha.”

“Não é assim que os militares funcionam—“

“Eu sei, eu sei. Mas… que se foda”, ela resmungou. “Sério, de verdade. Foda-se isso.”

Deixando-o ali na rua, ela saiu em busca da academia particular de Baird, pronta para dar algumas centenas de golpes em um saco de pancadas que pudesse dormir sem pesadelos.

Provavelmente foi por isso que os pesadelos começaram a sangrar em suas horas de vigília que ficou com JD.

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