Desde que a franquia Gears of War passou a ser da Microsoft em 2014, muitas mudanças ocorreram na forma como ela foi manejada, e acredito que seja importante recapitular algumas coisas até o momento que estamos e o porquê que estão retornando as origens da saga.
Todos ficaram surpresos ao ver o anúncio do Gears of War E-DAY com o retorno ao tom sombrio que foi característica do primeiro, e pois bem, isso tem uma explicação.
Transição, hiato e mudanças
Em 2013 assim que a Epic Games em conjunto com a People Can Fly lançaram o Gears of War Judgment, Tim Sweeney CEO da Epic confirmou que eles não iriam mais utilizar a franquia e que a deixaram na geladeira.
A Epic junto com a People Can Fly até tinham planos de produzir o Gears of War 4 esse no qual começou a ser desenvolvido por ela, entretanto, o custo dele levaria a Epic a falência.
De acordo com Sweeney, da forma como a Epic Games estava produzindo, o quarto jogo precisaria de um orçamento superior a US$ 100 milhões.
Dessa forma, o jogo precisaria ser um enorme sucesso para dar retorno. “Qualquer coisa menos do que isso poderia nos colocar fora do negócio”, disse Sweeney.
A Epic então já não tinha planos de retomar franquia, pois eles queriam ir para novas direções atuando no segmento de jogos GAAS (Game as a Service) e Gears não se encaixava nisso. Foi então que a Microsoft viu uma oportunidade de garantir a franquia para eles, até porque era muito forte no Xbox.
Alguns detalhes que são interessantes notar é que – Gears of War Judgment não teve a supervisão de Cliff Bleszinski (criador da saga) e de Rod Fergusson (co-criador) e por isso ele acabou tomando alguns rumos diferentes que não agradaram tanto os fãs na época.
Em 2013, Cliff tinha saído da Epic para formar seu próprio estúdio – a falecida BossKey Productions e já não tinha planos de retornar para o Gears, enquanto Fergusson estava na Irrational Games de Bioshock Infinite que também veio a falência um tempo depois.
Em paralelo a isso, em 2014 a Microsoft estava passando por uma reestruturação no seu setor de jogos, vide a gestão questionável de Don Mattrick com o Xbox One. Phil Spencer assumiu o cargo de chefe da Microsoft Studios e iria liderar a marca pelos próximos anos.
A Microsoft então adquiriu a franquia em 2014, e para a Sweeney e Cliff “não poderia estar em mãos melhores mãos”.
A nova era do Gears
Com o Gears of War em mãos agora a Microsoft tinha que definir um estúdio para cuidar da franquia, e foi então que definiram que a “Black Tusk Studios” estaria responsável nisso, não só isso como também trouxeram o Rod Fergusson (co-criador) para assumir a direção do estúdio.
A Black Tusk Studios era um novo estúdio da Microsoft que estava desenvolvendo um novo jogo exclusivo de espionagem para o Xbox One na época, entretanto devido a essas mudanças com a chegada do Gears, o estúdio passou a se dedicar exclusivamente em Gears of War.
Devido as mudanças de rumos no estúdio, ele passou a se chamar The Coalition, fazendo jus ao nome focado em Gears of War.
Com tudo nos eixos novamente, Gears estava pronto para voltar finalmente, e todos estão ansiosos em ver um novo Gears of War na nova geração.
O estúdio da The Coalition então pensou – queremos que a franquia volte já em 2015 porém lançar uma sequência seria inviável, foi então que planejaram em remasterizar o primeiro Gears of War.
Gears of War: Ultimate Edition (2015) foi o primeiro projeto da The Coalition, foi uma remasterização conduzida por Rod Fergusson (chefe do estúdio) e Mike Crump (Produtor Executivo do jogo) – esse que mais tarde terá um papel importante.
A remasterização caiu no agrado de muitos jogadores que ficaram contentes em ver o retorno da saga com gráficos de nova geração o que deixou muitos com as expectativas para o então já anunciado Gears of War 4 (2016).
Gears of War 4 teve uma recepção mista dos fãs da franquia, alguns alegaram na época que jogaram muito na zona de conforto e que teve poucas novidades. A saga então aqui começa a entrar num rumo diferente deixando de lado aquele tom sombrio, violento e brutal que conhecíamos inicialmente na trilogia.
A introdução dos novos personagens como o JD, Kait e Del não foi unânime, é comum vermos diversos que não gostaram tanto deles, comparando com o Esquadrão Delta formado por Marcus, Dom, Cole e Baird.
Esse Gears também foi imaginado para novos jogadores conhecerem a saga, então muitos antigos se acabaram frustrados, em especial no multiplayer, por ser um Gears que abraçou muito essa nova leva e então a saga começa a entrar num leve declínio para os fãs.
Com o lançamento do Gears of War 4 o estúdio já estava pronto para o Gears 5 (2019), agora com uma novidade – a franquia contava com a primeira protagonista mulher – Kait Diaz.
O estúdio da The Coalition estava mais preparada para tomar riscos com esse Gears, abordando também aspectos de um mundo aberto, e aqui muitos jogadores se dividiram, Gears já estava tomando um rumo muito diferente que agradou alguns mas para os fãs de longa data, nem tanto.
A remoção do “of War” também foi algo um tanto quanto questionável que, segundo o que Fergusson explicou – Gears não se trata apenas de guerra, pois isso abreviaram apenas para “Gears”.
Gears 5 introduziu uma história muito boa com aspectos de mundo aberto e um multiplayer mais inclusivo para novos jogadores, o que para muitos, esses detalhes foram bem difíceis de digerir.
Com a franquia tomando um rumo distante, foi necessário rever alguns conceitos e entender o que estava acontecendo.
Voltando as origens
Em 2020, Fergusson anuncia sua saída do estúdio para comandar a franquia Diablo da Blizzard. Aqui começa uma reformulação na The Coalition, algo que já estava acontecendo na época com a saída do time através do Gears of War 4 e Gears 5.
O novo chefe do estúdio passou a ser o Mike Crump que trabalhou no Gears of War: Ultimate Edition, e bem, isso pode explicar muita coisa.
Algo curioso a se notar é que o Cliff Bleszinski já disse abertamente que Rod Fergusson barrou diversas de suas ideias, inclusive mencionando que gostaria de fazer um Gears of War Judgment voltado para os Guardas Onix.
Não estou sugestionando firmemente que Fergusson é o principal culpado do Gears perder suas origens mas quem diz isso é o próprio criador da franquia – Cliff Bleszinski.
Cliff nos últimos tempos tem feito declarações abertas que a saga perdeu muito sua identidade inicial e que gostaria de retornar apenas para redirecionar ela novamente para o caminho certo.
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Acontece que, mediante todos esses acontecimentos que tivemos, o estúdio da The Coalition deve ter escutado os fãs e seu criador e está tentando retomar novamente a franquia de voltas as trilhos com o Gears of War E-DAY.
Tivemos diversas confirmações do estúdio que eles estão retornando a essência e origem da franquia pela qual ela ficou conhecida que foi a atmosfera sombria, bruta e violenta, inclusive, voltando até mesmo o “of War”.
Tudo indica que a franquia irá se manter assim em diante até mesmo nos próximos que vierem, o anúncio do E-DAY balançou toda a comunidade que estava na espreita, e todos, sem exceção, gostaram do que viram.
O anúncio do E-DAY deixou até mesmo Bleszinski contente, dizendo que tudo o que foi mostrado é o que estavam pedindo – Voltar ao básico, dê o que as pessoas querem: Marcus e Dom e num momento marcante.
Gears of War E-DAY pode marcar o recomeço da franquia, com uma nova direção e visão do estúdio, visando os princípios pelo qual a saga sempre foi conhecida.